Ser mãe
Estava aqui me preparando para rever o texto que escrevi sobre minha mãe, quando ouvi um miado no quarto ao lado. Sem entender ao certo o que era, fui olhar. Minha filha de 18 anos estava aos prantos, dizendo que o namorado ia terminar com ela. Larguei minha intenção prévia e fui acudir minha filha. Abraçadas, perguntei o que houve.
Parece que o namorado foi ríspido e ameaçou
terminar justamente agora, em vésperas do vestibular de medicina, para o qual
ela tanto se dedicou. “Mas mãe, o que vou fazer, não vou conseguir arrumar um
namorado tão bonito no cursinho e minhas amigas estão todas namorando. Nem
tenho tempo de sair, só de estudar”.
Respirei fundo e pensei na minha melhor
frase para consolar uma adolescente. Afinal, já tive 18 anos e achei que nunca
seria feliz ou amada. Quem é mãe sabe a antipatia que a gente sente de um
namorado que entristece um filho nosso.
“Filha, mas você é uma boneca, inteligente,
prestes a começar o curso de medicina. Estudiosa e centrada. E ele um garoto
bonito que não quer estudar”. Vi que minha estratégia estava funcionando e fui
refinando a avaliação da situação. Consegui fazê-la colocar o celular no modo
avião e parar de olhar se ele mandou mensagem. E quando ela disse que não
conseguiria estudar naquela angústia, contei que boa parte dos meus estudos
foram associados a momentos assim. Começos e recomeços, vários amores
frustrados e sempre estudando, com ou sem problemas.
Com ela mais calma, deitada no meu colo, fui
conversando sobre o rapaz, sobre outras possibilidades numa faculdade, em como
era importante aquela fase para se construir o futuro. E para coroar com chave
de ouro, me desculpem os homens, disse que beleza não põe mesa e que no final boa parte dos homens ficam acomodados, barrigudos e carecas. Já tinha
conseguido arrancar um sorriso dela. Completamos com uma comida chinesa e ainda
espero assistir “Rei leão” ou “Frozen” daqui a pouco.
Não consegui retomar ao tema previamente
escolhido, porque me dei conta de que ser mãe é isto, estar ao lado, acolher,
largar tudo caso o filho precise, dar conselhos com as melhores intenções,
esperando poder ajudar. Havia encontrado minha definição de ser mãe: se for
preciso, mudar de rumo pelo filho.
Assim como minha própria mãe desistiu de
todo seu talento para criar a família, numa cidade pequena do interior que não
soube absorver todas as suas habilidades. Que foi infeliz por não conquistar
seus sonhos, mas que criou uma família honesta e unida fazendo valer à pena,
agora que o Alzheimer lhe roubou a memória. Hoje ela é feliz, sem memórias ou
habilidades, com a família ao redor.
Da mesma forma mudei de projetos e rumo a
cada necessidade da minha filha e de sobrinhas tidas como filhas, sempre que necessário. Revi conceitos e escolhas por elas. Parei de olhar para mim
para olhar para elas, menos centrada nos meus próprios interesses.
Não sei se será o final do namoro da minha
filha. Sei que já chorei muito pelo mesmo motivo
que vi minha filha chorar hoje e aprendi que algumas pessoas vêm e vão sem
explicação e que às vezes, outras aparecem e reescrevem nossa história.
Definitivos são nossos filhos. Independente da situação ou idade, é por eles
que mudamos o caminho. Não há felicidade se o filho está infeliz.
Amor de mãe muda o rumo da vida, larga
sonhos e ilusões pois a melhor escolha é aquela feita por amor a outra pessoa.
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