Tanto riso, oh quanta alegria! E tudo começou no carnaval...

Meu pai sorrindo me disse que conheceu minha mãe num baile de carnaval. E quem disse que amor de carnaval não dura?

Tanto riso, oh, quanta alegria!

Minha casa vibrava no carnaval, era o coração da escola de samba. Fantasias chegando e saindo. Minha mãe, suas vizinhas e amigas Maroca/Aracy/Aparecida enlouquecidas com a organização. Tia Ducarmo e sua família chegando do Rio... comidas, bebidas e risos. Era o carnaval de Laranjal.

Tanto riso, oh, quanta alegria!

Como ficaria o desfile da escola de samba se chovesse? Minha mãe com seu terço na mão e todos rezando para não chover. No clube de Laranjal, bem pertinho da minha casa, já se ouvia a banda aquecendo. Minhas irmãs se aprontando e aprontando hehe, fantasiadas, lindas! Meu irmão sempre de índio. Meu pai tomando seu Whisky com guaraná. Eu ali, uma menininha deslumbrada com tudo aquilo.

"Cidade maravilhosa, cheia de encantos mil..." Clarice e Hércules na porta do clube a nos esperar. Era o carnaval de Laranjal pulsando no meu coração.

Tanto riso, oh, quanta tristeza!

O tempo passou. A escola de samba acabou, os bailes do clube também. Pessoas amadas se foram, deixando lembranças e dor. Quanta saudade! Se o tempo voltasse, ia chorar de alegria abraçada a ele e aos meus amores. É o que penso em fazer hoje.

Talvez o paraíso seja assim... alegria, emoção e amor exalando perfume para todo lado. Todos dançando juntos. Como era no carnaval de Laranjal.

Vai ver tudo começa e termina com o carnaval.

 Sabe a vida cômoda

tranquila

Sem receio ou insegurança

Aquela que morre sem viver

Morna

Enjoa de pensar

Ela tem medo de correr

Não gosta de pular

Vida que não se arrisca

Mansa

Que pensa se vai mudar

Sem saber pra quê

...Vida de muitos eus

 Todo ser humano deveria vir com um letreiro na testa, assim como o de cinema, mostrando suas intenções.

Já pensou como seria prático escolher um político pelo letreiro e não pelo gogó? Sensacional! 

- Vossa excelência é admirável. E o letreiro: "esse homem é um sem-vergonha".

- Eu penso no bem-estar do cidadão. O letreiro: "o povo que se dane, quero mais é roubar e ficar no poder".

Aos poucos os políticos se tornariam mais e mais honestos pois caso contrário seriam expulsos for falsidade.

Em relacionamentos então, "eu sou generoso e gosto de vida familiar" ou "eu sou malandro e só penso em dinheiro". Também: "eu sou gostosa e interesseira", "sou honesta e busco o amor", "sou mulherengo e folgado". E por aí vai.

Só penso em pontos positivos. Ninguém seria enganado. Nada mais justo do que um letreiro mostrando suas qualidades e defeitos. O bandido ia tentar se ajustar. O inteligente buscaria alguém semelhante, assim como o honesto. O mundo seria bem mais simples.

Ninguém mentiria sobre o amor e muito menos um sentimento tão pleno seria banalizado. Já pensou dizer "eu te amo" e o letreiro mostrar "estou carente e você me serve" ou dizer "você é a pessoa dos meus sonhos", o letreiro: "que saudade do meu ex". As traições seriam cortadas pela raiz. "Me apaixonei por outra e estou esperando o momento certo para romper" ou "sou um galinha e já voltei para o Tinder". Estou aqui me divertindo com as possibilidades.

A cartomante iria tirar cartas e o letreiro: "o que vou falar para essa aí". O padre ou pastor não viveriam de forma diferente ao que dizem viver.

Um mundo só de verdades, seria viável?

Infelizmente Deus quis que a gente se digladiasse por aqui, para entender o outro. Errasse e por diversas vezes quebrasse a cara.

Talvez nosso mundo seja uma ponte para um de letreiros. Ou quem sabe um mundo sem letreiros, só com pessoas sinceras e tolerantes. Vai saber.

Mas hoje, gostaria de ter um letreiro na testa. Na minha e na de todos. O meu estaria intrigante.

 Esquina

Semirreta, linha curva

Sonata e sinfonia

Ascende, transcende

Ilumina

os palcos da vida

os bailes da vida

Esquina de um milhão

Um trilhão

Se cair uma bomba

Explode em poesia

Um sonho

Um clube raro 

Num vento de maio

De sons naturais

O cheiro de flor

Seus timbres vocais

Segredos de amor

Esquina fugaz

Verso e melodia

De encontro, de encanto

Oh Minas Gerais

(J. Geraldo - meu irmão❤)

   

  Estava aqui me preparando para rever o texto que escrevi sobre minha mãe, quando ouvi um miado no quarto ao lado. Sem entender ao certo o que era, fui olhar. Minha filha de 18 anos estava aos prantos, dizendo que o namorado ia terminar com ela. Larguei minha intenção prévia e fui acudir minha filha. Abraçadas, perguntei o que houve.

   Parece que o namorado foi ríspido e ameaçou terminar justamente agora, em vésperas do vestibular de medicina, para o qual ela tanto se dedicou. “Mas mãe, o que vou fazer, não vou conseguir arrumar um namorado tão bonito no cursinho e minhas amigas estão todas namorando. Nem tenho tempo de sair, só de estudar”.

   Respirei fundo e pensei na minha melhor frase para consolar uma adolescente. Afinal, já tive 18 anos e achei que nunca seria feliz ou amada. Quem é mãe sabe a antipatia que a gente sente de um namorado que entristece um filho nosso.

   “Filha, mas você é uma boneca, inteligente, prestes a começar o curso de medicina. Estudiosa e centrada. E ele um garoto bonito que não quer estudar”. Vi que minha estratégia estava funcionando e fui refinando a avaliação da situação. Consegui fazê-la colocar o celular no modo avião e parar de olhar se ele mandou mensagem. E quando ela disse que não conseguiria estudar naquela angústia, contei que boa parte dos meus estudos foram associados a momentos assim. Começos e recomeços, vários amores frustrados e sempre estudando, com ou sem problemas.

   Com ela mais calma, deitada no meu colo, fui conversando sobre o rapaz, sobre outras possibilidades numa faculdade, em como era importante aquela fase para se construir o futuro. E para coroar com chave de ouro, me desculpem os homens, disse que beleza não põe mesa e que no final boa parte dos homens ficam acomodados, barrigudos e carecas. Já tinha conseguido arrancar um sorriso dela. Completamos com uma comida chinesa e ainda espero assistir “Rei leão” ou “Frozen” daqui a pouco.

   Não consegui retomar ao tema previamente escolhido, porque me dei conta de que ser mãe é isto, estar ao lado, acolher, largar tudo caso o filho precise, dar conselhos com as melhores intenções, esperando poder ajudar. Havia encontrado minha definição de ser mãe: se for preciso, mudar de rumo pelo filho.

   Assim como minha própria mãe desistiu de todo seu talento para criar a família, numa cidade pequena do interior que não soube absorver todas as suas habilidades. Que foi infeliz por não conquistar seus sonhos, mas que criou uma família honesta e unida fazendo valer à pena, agora que o Alzheimer lhe roubou a memória. Hoje ela é feliz, sem memórias ou habilidades, com a família ao redor.

   Da mesma forma mudei de projetos e rumo a cada necessidade da minha filha e de sobrinhas tidas como filhas, sempre que necessário. Revi conceitos e escolhas por elas. Parei de olhar para mim para olhar para elas, menos centrada nos meus próprios interesses.

   Não sei se será o final do namoro da minha filha. Sei que já chorei muito pelo mesmo motivo que vi minha filha chorar hoje e aprendi que algumas pessoas vêm e vão sem explicação e que às vezes, outras aparecem e reescrevem nossa história. Definitivos são nossos filhos. Independente da situação ou idade, é por eles que mudamos o caminho. Não há felicidade se o filho está infeliz.

   Amor de mãe muda o rumo da vida, larga sonhos e ilusões pois a melhor escolha é aquela feita por amor a outra pessoa.