Enfeite de Natal🌲

By Marlise Vidon - 3/07/2023 11:33:00 AM


Fernanda estava subindo pela escada, para alcançar os enfeites de Natal, guardados no alto do guarda-roupas. Ela amava o Natal e gostava de enfeitar sua casa com árvore, presépio e luzes coloridas. Era para ela uma data de celebração do amor de Deus pela humanidade.

Pegou a caixa contendo as bolas com cuidado. Desceu degrau por degrau, até que pisou em falso e caiu com a caixa no chão.

Acordou, mas não reconheceu sua casa. Estava tudo leve e o chão parecia de pedras, com cheiro de terra molhada. Ficou ali por alguns instantes, até que avistou uma criança toda brilhante. Não teve medo, só curiosidade.

- Quem é você? Sabe que lugar é esse?

A criança estendeu a mão à Fernanda, tirando-a do chão.

- Sou você na infância, naquele dia em que estava triste e teve que superar a dor. Você veio aqui e se encheu de força. Estou com você desde então.

Fernanda a abraçou, sabia que devia a ela a resiliência. Viu outra pessoa chegar.

- E você, não pode ser minha irmã, como a encontrei? - Disse Fernanda, sem conseguir conter o choro.

- Querida Fernanda, passamos juntas os momentos mais tristes da sua vida. Você me trouxe para dentro. Eu sou você, quando perdeu sua irmã. Tivemos que atravessar o deserto, até aceitarmos a morte. Hoje não é só você, somos nós e nossas escolhas, porque vivo em você.

Fernanda se lembrou de toda dor, do seu coração partido. Amou a irmã que havia nela. 

Pensou estar no seu local mais íntimo.

Saiu andando, a pedra do chão era suave e morna. Não havia um céu, mas uma neblina vermelha, parecida com a paisagem do entardecer. Viu um camelo caminhando na areia, saindo do mar. Lembrou de um filme assim. O camelo no filme se transformou no pai já falecido da astronauta. Ela sorriu para o camelo e prosseguiu.

Ouviu uma voz de longe, se recordou dos enfeites de Natal e pensou em voltar, mas algo a fez continuar ali. Precisava se entender e aquela era a oportunidade. A voz poderia esperar mais um pouco, ou quem sabe desaparecer.

Viu o fogo e a água. Mergulhou e a água a sustentou. Teve uma sensação de segurança deliciosa. Devagar, se aproximou do fogo, com medo de se queimar. Parecia ouvir: “venha, não tenha medo de mim, se permita queimar, sentir o seu fogo.”

E lá foi ela, de mãos dadas com a água, dançar com o fogo. Teve uma sensação extasiante. Um queimar seguro e fresco.

Depois se meteu num campo minado e o fogo estourou seus receios, a água a abraçou com suas ondas. Se sentiu acariciada e amada. Estava mais viva do que nunca. Não havia ali morte, solidão ou dor. Podia gritar de emoção.

Começou a achar que estava a caminho do céu. Aquele devia ser um passeio de boas-vindas.

Algo intrigante veio em sua direção, um Ser desconhecido, sereno. Irradiava calor e bondade. Fernanda olhou para Ele e ao abrir a boca para conversar, ouviu novamente a voz:

- Levanta mãe! Acorda, por favor!

Fernanda reconheceu a voz de sua filha, parecia desesperada. Olhou para o Ser e uma sensação maravilhosa de paz a envolveu. Ouviu a filha, sentiu suas mãos frias e o coração acelerado. Seu amor a envolveu. Sabia que ainda não podia deixá-la. 

Abriu os olhos, se levantou devagar. Perguntou pela água e o fogo.

- Tá doida mãe, que água e fogo? Acorda!

Fernanda abraçou a filha. “Tá tudo bem!”

Ainda não era tempo.

Sorrindo de mãos dadas com a filha, olhou para os enfeites de Natal esparramados ao seu redor. 

Parecia flutuar, com as bolas brilhando, refletindo as duas.

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