Me escapa pelas mãos, como a água que corre para o ralo

A decisão do outro e o correto que julgo ser

Me escapa, some e desaparece

Aquilo que não senti

O mundo de aparência

Escapa e deixo ir para bem longe

O certo ou o errado do outro

meu querer insensato

a dor

o que não posso mudar

A chuva escorre por entre os dedos

Escapa e evapora

como a vida que se vai no tempo

nas lembranças, do amor que não vivi

Então fecho os olhos, me acalmo e acalento

Rezo, sem saber para onde

Se irei escapar do que me prendeu

ou se irei ser assim

só assim, tudo bem

Beijinhos, flores do campo, margaridas

Tão lindas e simples

Encantam

Se transformam com o tempo

Ciclo de vida que completa

Infância, juventude e velhice

Antes viçoso, agora seco

Rico de lembranças, saudades

E um tempo que não espera, que se coroa em flores

Cheias de dor, cheiro de despedida

Um dia margarida, no outro finitude

Vida e morte, sementes

de um recomeço

Na faculdade de medicina da UFMG, estudávamos em grupos de 5 ou 10 pessoas.

Havia uma amiga minha, 2 períodos à frente, que sempre saía para os botecos e festas com a gente. Eu e essa amiga passávamos os finais de semana juntas estudando, ouvindo música e chorando as dores com vinho chapinha… era nosso ritual de sofrimento hahah.

Certa vez fomos eu, minha amiga e o grupinho de estudos de 5 para calourada de medicina no DA Alfredo Balena. Chegando lá, minha amiga se deparou com seu paquera “pegando” outra. Foi um chororô só. Eu a consolava e chorava junto, claro!

Percebi que um amigo do grupo de estudos de 5 nos observava. Puxei minha amiga e fomos para o banheiro sofrer em paz. Quando olhei para o lado, vi que esse amigo nos seguiu. Ele falou: “0h… chora não! Marlise como é mesmo o nome dela?”

Caímos na gargalhada e só aí meu amigo se deu conta de que estava no banheiro feminino.

Voltamos rindo para calourada, a banda tocando: “não sei porque vc se foi, tanta saudades eu senti e de tristeza vou viver, aquele adeus não pude dar… e eu, gostava tanto de vc, gostava tanto de vc”.

Hoje não choramos mais em calouradas bebendo vinho chapinha, mas nossa amizade permaneceu. Seguimos juntos desde então e às vezes até choramos cantando: “e eu, gostava tanto de vc”.

São meus amores.

Todas as reações:

58Cristiane Altinis, Márcia Vidon Ferreira e outras 56 pessoas

A ganhadora da promoção é Marlise Vidon Alvarenga, que deu a melhor resposta para a pergunta: "qual música do Ritchie marcou a sua vida e por quê?"

Confira abaixo a resposta da Marlise:

"Menina veneno". 

Meu pai estava internado no interior de Minas, aos 90 anos. Fui para o Hospital avaliá-lo, já que além de filha era também sua médica. Saí de Belo Horizonte e após 5 horas de viagem, cheguei para acompanhá-lo. Ele estava agitadíssimo, arrancando a sonda, pedindo para soprar sua testa, lavar a dentadura e passar álcool nas pernas. Já de madrugada e nada do meu pai dormir, eu mal conseguia parar em pé de tão cansada. Lembrei-me de um pen drive que levei com boleros antigos e as músicas preferidas dele, do Roberto Carlos. Coloquei para tocar. Meu pai finalmente se acalmou e dormiu. Eu desmaiei ao lado, ainda segurando suas mãos para que não arrancasse a sonda gástrica. Após alguns minutos preciosos de sono, do nada o som aumentou e tocou: "Menina veneno você tem um jeito sereno de ser, e toda noite no meu quarto vem me entorpecer, me entorpecer". Acordei assustada e quando olhei para o lado meu pai estava com os olhinhos abertos cantando junto. Tive que rir, para depois voltar para o ritual de lavar a dentadura e soprar a testa. 

Meu pai faleceu alguns dias depois. Teve uma boa vida, foi no momento certo. E agora quando ouço "Menina veneno" é nele que penso com saudades, boas lembranças e todo meu amor.