Carnaval
Já fui fã de carnaval.
Me lembro que na infância esperava emocionada pelo primeiro dia de carnaval. As fantasias, as paqueras, os bailes do clube inebriaram minha mente. Era tudo mágico, como se eu entrasse num redemoinho de sensações.
Já adulta o carnaval de farras foi substituído pela necessidade de ficar à toa, vendo com minha mãe os desfiles da Sapucaí, pela TV. O melhor pra mim era aquietar e descansar.
Depois do nascimento da minha filha, o carnaval tornou-se mais família ainda, com prioridades tais como escolher uma fantasia bonita que não a incomodasse (ao contrário de minha mãe que sempre nos empetecava com plumas e paetês). No máximo uma farrinha em casa, cervejinha gelada, filme e descanso. De novo o descanso.
O tempo foi passando, levando meus amores pelas mãos, diminuindo minhas expectativas por mais que a vida tenha sido boa em vários outros aspectos. A maturidade trouxe a necessidade de cuidar dos meus pais. Hoje quem tem a sorte de aos 50 e tantos anos ter os pais vivos sabe que a demanda por cuidados é grande. Meu pai se foi, de forma que carnaval hoje para mim significa cuidar de minha mãe.
Vejo os foliões e me pergunto o porquê de tanta alegria e êxtase, como se não fosse o meu exato retrato de ontem. Questiono se o tempo me entristeceu. Se o envelhecimento trouxe consigo uma gama de responsabilidades incompatíveis com a alegria - mesmo aquela fabricada por festas.
De malas prontas para o sítio, já combinando com meus irmãos quem leva o quê - outra mudança pois antes minha mãe se responsabilizava por tudo - com mais mantimentos do que fantasias, mais dúvidas do que certezas, cheguei à conclusão de que sim, a vida entre os 50 - 60 anos fica mais dura. Entendi que com as fases a gente vai mudando para mais pensativo que emocionado, mais sério que fantasioso.
Fiquei chata?
Provavelmente, com um olhar que busca por necessidades, minhas e dos outros, além de conforto e bem estar.
Vou aguardar o tempo, ver se a velhice irá trazer de volta a emoção da infância, se irei colocar o chapéu de flores escrito pelo Veríssimo (acho que por ele mesmo, a tal velhinha que coloca um chapéu de flores e sai sem se preocupar com nada).
Até lá, o que busco no carnaval é um bom descanso (de novo rs), ao lado dos meus. Deixo aos jovens o redemoinho de emoções.
13 comentários
É bem isso mesmo...
ResponderExcluirVai se o tempo! Vamos entendendo não só o Carnaval mas tb a vida sob novas lentes bjs!!
Verdade. Vamos aguardar o chapéu de flores.😘
ExcluirLindo, lindo, parabéns.
ResponderExcluirObrigada!🥰
ExcluirÉ mesmo bem assim... Ainda mais com o avançar dos anos. Olho
ResponderExcluirudo isso até mesmo apreciando a ingenuidade dos anos de outrora. Saudades do que passou, mas o olhar fixo nas possibilidades que o dia de hoje nos oferece.
E é com esse hoje que"Nos vamos sambar até cair no chão"
Viva .!
Ahahahh só se as caipimaracujás que planejo tomar fizerem efeito.😁
ExcluirO Carnaval: Um Espelho da Vida em seus Matizes Etários, espelho das Horas e dos Tempos.
ResponderExcluirO Carnaval, essa festa que dança entre o sagrado e o profano, é como um rio que atravessa a existência, moldando-se às margens do tempo. Para os jovens, embriagados pelo delírio da novidade, ele é vertigem e impulso—um coração acelerado que pulsa ao ritmo ensurdecedor dos tambores. As ruas fervilham sob os pés que desconhecem o peso dos anos, e cada noite parece prometer a eternidade dentro de um compasso efêmero de luz, suor e música.
Todavia, para um homem que já empilha seis décadas, a folia veste outra pele. Se antes era tempestade, agora é brisa. Se antes era o salto irreverente - triplo twist carpado - no desconhecido, hoje é o caminhar tranquilo sobre memórias que dançam ao som das antigas marchinhas (Lá no Florestinha, Minas I, Aurilândia em Nova Lima, São João Del Rey, etc.). A multidão já não o arrasta, mas ele a observa - e vê nela a juventude que um dia foi sua, rodopiando como serpentinas ao vento. O Carnaval, que já foi devoração, torna-se contemplação: um espetáculo de cores e ritmos que, mais do que fascinar os olhos, ilumina a alma.
Os desfiles de escolas de samba desfilam também dentro dele, não apenas com suas alegorias grandiosas, mas com fragmentos de sua própria história. A cada tamborim que ecoa, ele reconhece batidas de outros carnavais: os risos empoeirados dos amigos que se perderam no tempo, os rostos que o passado guardou como fotografias invisíveis, os amores que nasceram entre confetes e se dissolveram com a Quarta-feira de Cinzas.
E, ainda assim, o Carnaval continua a chamá-lo. Não como um convite à euforia desenfreada, mas como um abraço daquilo que nunca deixou de ser. Posto que, a festa não pertence apenas à juventude, mas a todos os que carregam dentro de si a chama indomável da celebração. Enquanto houver um bloco na rua, uma melodia familiar no ar, um brilho de fantasia no olhar, o Carnaval seguirá sendo seu também - um elo entre o ontem e o agora, uma promessa de que a alegria, assim como a vida, pode sempre renascer em novas formas.
No fim e enfim, o Carnaval é isso: um espelho onde o tempo se reflete sem pressa, dançando entre o que fomos, o que somos e o que ainda podemos ser. E claro, não esqueça o chapéu de flores.
😊
🎭✨
😻
Legal Léo, continue escrevendo, Abraços.
Excluir👍🏼
ExcluirMuito bonito seu texto, parabéns! 😘
Excluir😻
Excluir"Fiquei chata?"
ResponderExcluirSe você ficou chata tá atestado que não existem pessoas legais nesse mundo inteiro rs rs
Amei o texto, tia!!!
Amor de afilhada e sobrinha🥰
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