Boba eu que me vi em luzes
Esperando brilhar
Tolo o querer
De nada servirá
Resta mesmo o bem estar
Amizade
de um amor aconchegante
Saúde, de filha forte
Vida independente
de aplausos que entorpecem o pensar
Boba eu
Ando tricotando palavras
Remendando frases
Costurando decisões
No meu canto de silêncio
de mudanças
que preciso tecer em mim
(Arte em tricô: Vitória)
Hoje é um dia quente por fora, frio por dentro. Melhor viver em neblina a deixar o sol queimar do lado errado.
Meg chegou no céu dos bichinhos
e olhou para trás, procurando por sua dona. Sem achá-la, se deu conta de que
ela tinha ficado na Terra. Teve receio de que não estivesse bem, precisava
reencontrá-la.
Resolveu olhar ao redor e viu um cãozinho másculo vindo em sua direção.
Putz, era o Max, seu amor da Terra. Max não foi legal com ela. A esnobava,
ignorava, sumia com outras cadelinhas, mas mesmo assim, era dele seu coração. E
agora, se faria de desentendida ou iria até ele?
Meg resolveu explorar aquele lugar incrível sem o Max. Não sentia mais
dores, conseguia correr e pular, como na juventude. Viu à frente uma grama
verdinha e brilhante, com flores rosas, borboletas azuis e canarinhos. A grama
virou nuvem e Meg deslizou até chegar numa colina cheia de coelhos. Não sentia
vontade de morder os coelhos e sim pular com eles, brincar. Foram juntos até
um lago. Meg nadou, saltou com os coelhinhos e se esbaldou, até que avistou uma
porta.
Colocou o focinho na greta da porta e viu sua dona chorando, triste. Meg
se sentou ao lado dela, tentou latir, mas não saiu nada. Queria contar para a
dona como era incrível o lugar que estava, que não era para ela chorar. Queria
muito falar que Max também estava lá, mas seu latido ficou mudo. Dormiu ao lado
da dona até que na manhã seguinte a achou melhor. Aliviada, voltou para o céu
dos bichinhos, e lá avistou alguém conhecido. Era a tia, irmã da dona. Ela
chegou e fez um afago em Meg, como quando moravam na Terra. Não é que ela
também passeava por ali...
Meg já era popular no céu. Max às vezes se aproximava, mas Meg continuou deixando o tempo – que mais parecia atemporal, passar. Várias vezes visitou a dona, que agora estava bem.
Certo dia, Max, cheio de coragem e sem orgulho – algo que para Meg era
encantador, foi até ela e pediu perdão. Meg então perguntou:
- Max, porque fica assim
atrás de mim, me cercando, se não me amou quando podia?
Com os olhos abaixados, úmidos e sinceros, Max respondeu:
- Porque tive medo de
tentar. Deixei o destino nos juntar, mas esqueci de dizer que queria você.
- Mas Max, você é mesmo
besta! Poderíamos ter curtido a vida por lá.
- Meg, toda hora que
a gente se aproximava, algo nos separava. E você sabe que as outras cadelinhas
se atiravam em mim. Mas você também não disse, com todas os latidos, que queria
ficar comigo.
- Poxa, Max, se não
me sinto segura numa situação, fujo. Ver você com outras, principalmente aquela
poodle pela qual se apaixonou, me fez desistir. Você dizia que ela era seu
amor. Não entendo, o que faz aqui, perto de mim?
- Meg, meus sentidos
me enganaram. Me apaixonei e esqueci de enxergar o principal, a essência. Ela
me largou e hoje também está aqui, com um pastor alemão. Sei que ela não era
meu amor. Você é.
- Quer saber, deixa pra lá.
Vamos fazer aqui o que não fizemos lá... nos divertir.
Saíram meio sem jeito, até que perderam o medo de tentar. Quem olhasse
de longe veria dois cachorrinhos correndo por entre as nuvens, felizes.
De soslaio, Meg olhou para a porta que a ligava à dona. Entrou. Ela
estava plantando umas flores coloridas. Foi quando a dona olhou para baixo,
onde havia guardado Meg, no jardim de sua casa e disse:
- Meg, quando eu chegar aí você
vem correndo até mim? Vai me esperar?
Meg viu que a tia se aproximou e juntas responderam à
dona:
- Olha, nós só viemos antes. O
amor não se perde, se transforma. Estaremos aqui quando você chegar.
A dona plantou os beijinhos e sorriu. Parecia ter ouvido.
Hoje me senti nas nuvens
coberta por neblina
sombra de sonho
vi dentro de mim
Nuvem suave, densa
c
o
n
f
o
r
m
a
d
a
Tempo perdido
ou inspiração adormecida dos anos de infância
dos livros que li
de tudo que pensei
ser
Cresci
Cansei de achar
Até entender o que há
Nada demais
Só palavras
A grandeza de uma amizade torna o dia honesto
e os problemas amenos
Parece que o dia morno aquece a alma
dissipa ilusões
torna calma a dúvida
leve a esperança
O dia do meio, aquele que já foi de euforia ou dor
deixa a sensatez vasculhar
tomar
redesenhar
Dia terno de paz
Gosto de dias assim
Vida de lua minguante…
Se encher e então esvaziar
Desistir e recomeçar
Já fui fã de carnaval.
Me lembro que na infância esperava emocionada pelo primeiro dia de carnaval. As fantasias, as paqueras, os bailes do clube inebriaram minha mente. Era tudo mágico, como se eu entrasse num redemoinho de sensações.
Já adulta o carnaval de farras foi substituído pela necessidade de ficar à toa, vendo com minha mãe os desfiles da Sapucaí, pela TV. O melhor pra mim era aquietar e descansar.
Depois do nascimento da minha filha, o carnaval tornou-se mais família ainda, com prioridades tais como escolher uma fantasia bonita que não a incomodasse (ao contrário de minha mãe que sempre nos empetecava com plumas e paetês). No máximo uma farrinha em casa, cervejinha gelada, filme e descanso. De novo o descanso.
O tempo foi passando, levando meus amores pelas mãos, diminuindo minhas expectativas por mais que a vida tenha sido boa em vários outros aspectos. A maturidade trouxe a necessidade de cuidar dos meus pais. Hoje quem tem a sorte de aos 50 e tantos anos ter os pais vivos sabe que a demanda por cuidados é grande. Meu pai se foi, de forma que carnaval hoje para mim significa cuidar de minha mãe.
Vejo os foliões e me pergunto o porquê de tanta alegria e êxtase, como se não fosse o meu exato retrato de ontem. Questiono se o tempo me entristeceu. Se o envelhecimento trouxe consigo uma gama de responsabilidades incompatíveis com a alegria - mesmo aquela fabricada por festas.
De malas prontas para o sítio, já combinando com meus irmãos quem leva o quê - outra mudança pois antes minha mãe se responsabilizava por tudo - com mais mantimentos do que fantasias, mais dúvidas do que certezas, cheguei à conclusão de que sim, a vida entre os 50 - 60 anos fica mais dura. Entendi que com as fases a gente vai mudando para mais pensativo que emocionado, mais sério que fantasioso.
Fiquei chata?
Provavelmente, com um olhar que busca por necessidades, minhas e dos outros, além de conforto e bem estar.
Vou aguardar o tempo, ver se a velhice irá trazer de volta a emoção da infância, se irei colocar o chapéu de flores escrito pelo Veríssimo (acho que por ele mesmo, a tal velhinha que coloca um chapéu de flores e sai sem se preocupar com nada).
Até lá, o que busco no carnaval é um bom descanso (de novo rs), ao lado dos meus. Deixo aos jovens o redemoinho de emoções.
Em que detalhe me perdeu?
No silêncio angustiado que não questionou
No cansaço estampado que não desconfiou
No olhar sedento por afinidades
No carinho que esqueceu
No descaso
Na omissão do amor
Em que detalhe me ganhou?
No armário sob medida para nós
No sofá que me abraçou com seu braço
Na disposição de mudar pelo outro
Na batalha de me reter
nos dias de sua velhice
Em que detalhe me permiti?
Naquele que tentou reencontrar
O que há de melhor em nós
Ela achou o casamento cansado
Sem declarações ou afetos
Parecia ter dissolvido na rotina
do dia morno
que arrefece a emoção
Achou que era assim mesmo
Casamento longevo
De filhos crescidos, companheirismo
Não achou ruim, só achou
Até que numa conversa qualquer
sobre a taça vermelha de vinho
Ele a olhou e disse:
“Eu morreria por você”
Ela não soube mais o que achar
Chorou de amor
Corre no sangue o doce que escapa da vida
No Alzheimer é esquecer a dor
No Câncer é deixar de se importar com firulas
No envelhecimento é se calar podendo opinar
No dia duro é tomar banho e ir pra cama
Na decepção é entender o que frustrou
Na tristeza é deixar passar
O melhor do pior é se reescrever
Há tanta gaveta para arrumar dentro e fora de mim
Tanta história para contar
Que a solidão precisa esperar
O tempo acomodar
O tempo, tal qual uma corda em movimento, se desdobra em possibilidades. A corda forma um laço entre presente, passado e futuro, como se houvesse uma pequena chance ou um portal. Num ínfimo instante a vida se reescreve. Ou não.
Brava desde toquinho
Foi crescendo assim sem ver
sem querer
Cheia de cabelo e choro
Destemida, segura
Hoje em curvas encanta ao passar
Linda, inteligente e loira
Sem os cabelinhos pretos que tanto penteei
Com um olhar doce, quieto
Minha filha
Muito mais do que sonhei
Palavras e músicas encantam
Atitudes fazem a diferença
Há que haver términos
para recomeços
Ou tudo permanece em círculo