Vi a paz e ela não tinha dentes
ou pernas
Ela me sorria com os olhos de aceitação e encantamento
Ela existia porque ainda era tempo
Tinha cama desfeita
Teto sem telha num chão de poeira que cheirava à lenha
Veio me perguntar com esperança
se estava bem,
se a saúde prosperava além da doença
No parco momento em que a vi
A paz era tão serena
Com uma boca sem palavras
Sem dentes
Sem pernas
ou espera
Foto Geisa
Quando tive uma perda, há 17 anos, comecei a ignorar o tempo e parar para sofrer. Não tinha horário para chegar no serviço, pois de que me valeria correr, se o tempo me levaria a vida de qualquer jeito?! Com pequenos atrasos, fui ignorando o mundo, ele que me esperasse cicatrizar. Claro, a vida me chamou de volta à rotina, aos compromissos.
No pequeno espaço em que me permiti violar as leis do homem comum, senti o tempo diferente, como se a morte da minha irmã significasse que ela só foi um pouco antes. Perdi a dimensão do que era o agora. Não tive nenhum nirvana e nem consegui sofrer menos, somente compreendi que cada um tem seu tempo, e, se hoje alguém se vai, amanhã eu que irei.
Passei a me perguntar o que fazer com meu tempo, além das coisas habituais, tipo trabalhar, cuidar, conviver e apreender momentos especiais. O que percebi, nada demais; vi que há um determinado tempo de vida para que eu seja melhor do que fui ontem. Só não dá para saber quanto.
Foto: Carla Faria
Minha amiga anda cansada de tanto amar
Na noite insone o pai pede todinho
Acoplado à cânula de oxigênio, fuma um cigarro
Com seus 38 kg, joga buraco
Minha amiga acorda, fuma, bebe todinho e joga baralho
A mãe sem se levantar dorme no quarto ao lado
Lúcida, exige
Chama, cai
Minha amiga acorda e cuida
E ainda se culpa por cansar
E sem saber por quanto tempo
Ela se põe a esperar
E de tanto cuidar, se anula de viver
E a cada dia sem perceber
Ama um pouco mais por se perder
Hoje tem tanto livro escrito, até por IA, e pouco livro lido. Prudente mesmo é se abster, até ser completamente imprescindível publicar.
Amor
Ele trabalhava com vendas. Ela era aposentada e se responsabilizava pela casa, pelo jardim e pelo supermercado. Gostavam de passar as noites deitados, vendo TV, entrelaçados um no outro. Viviam uma vida comum, sem êxtase e também sem dor. A quem perguntasse, se diriam normais.
Na casa dos 60, com mais de 35 anos de relacionamento, ainda transavam. Deitavam-se juntos na sexta e, mesmo sem tesão, tocavam-se. Suas mãos percorriam trajetos esquecidos pelas rugas do tempo, entremeado de rotina. Demoravam no caminho, na pele envelhecida, na cintura alargada pelos filhos, nas mamas, na barriga flácida, no pênis, que, mesmo sem vigor, enrijecia. E, de toque em toque, gozavam um no outro, cada um ao seu ritmo, conectados.
— Meu bem, observei um carocinho na sua mama direita — ele disse.
— Onde? — perguntou ela, preocupada.
O marido mostrou, e, após apalparem o nódulo, decidiram marcar o médico o mais rápido possível.
— Sua mamografia está em dia?
— Sim, está.
— Provavelmente não será nada grave, fique tranquila.
Dormiram naquela noite angustiados com a possibilidade de um câncer.
O marido a acompanhava em todas as sessões; a quimioterapia não estava sendo fácil. Seus cabelos, já escasseados pela menopausa, caíram, e ela se ajeitou com uma peruca. Nos finais de semana, os filhos chegavam para o almoço e, se antes descansavam no sossego daquela união, agora se angustiavam com a doença da mãe, que nunca fumou, fazia atividade física, alimentava-se bem, não tinha histórico de câncer na família, consultava regularmente e seguia a orientação médica. Procuravam alguém para culpar, mas tiveram que aceitar o câncer como um pesadelo por vezes inevitável.
Passou por todo o tratamento previsto. Enfraqueceu, deprimiu-se, chorou inúmeras vezes no silêncio da noite, ao lado do marido. Questionou sua própria fé e os prováveis motivos da doença, mas bravamente aguentou.
Ele parou com as carícias por receio de machucá-la, despertando nela o sentimento de que não havia mais desejo. Foram se distanciando fisicamente e, finalizado o tratamento, nada voltou a ser como antes.
Consumida pelo temor de recidiva do câncer, perdeu sua leveza.
Sobrecarregado com a casa e os cuidados com a esposa, ele se aposentou, parou com a academia, engordou.
Envelheceram vários anos em um, mas não passavam um só dia sem dizer ao outro: “Eu te amo”.
Ele morreu alguns anos depois, de infarto, por esquecer de si durante o tratamento da esposa. O medo de perdê-la o paralisou. Ela viveu até os 93 anos, lembrando cada toque e abraço perdidos com a morte do marido, seu grande amor.
Dona Francisca arrumou seu
quartinho e foi dormir. Como ocorre no quarto de todo idoso, era repleto de
recordações, crochê, fotos e almofadas. A história de sua família e os momentos
preciosos da sua vida estavam naquele amontoado de objetos.
Ela conseguiu, com muita dificuldade, juntar um pouco por
mês durante todo o tempo em que trabalhou como cozinheira. Comprou um lote na
periferia de Porto Alegre e com a ajuda do seu falecido marido, levantou uma boa
casa, tijolo por tijolo. Os filhos vieram com seus companheiros e construíram
ao redor de dona Francisca. Num piscar de olhos tinha netos e bisnetos.
Era bom ter a família por perto, apesar das brigas diárias.
Tinha um filho alcoólatra que a enchia de desgosto, duas filhas separadas com
os novos maridos, o mais novo que não queria saber de trabalhar. Dona Francisca
ajudava com sua aposentadoria, ouvia e aconselhava, de forma a manter a paz no
lar. Era o esteio de todos eles.
No Natal havia muita alegria misturada à gritos, comidas,
bebidas e orações. Quietinha, depois da missa do galo, ela ia para seu quarto
descansar. Sentava-se no seu trono, a poltrona com descanso de pé e uma TV de
fronte, além do rádio na mesinha ao lado. Gostava de ouvir uma musiquinha antes
de dormir. “Um dia me disseram que as nuvens não eram de algodão... somos quem
podemos ser, sonhos que podemos ter”. Achou aquilo bonito e de certa forma sua
casa era seu sonho, representado em cada objeto colocado delicadamente no
quarto. Pensou no marido, um homem sério e trabalhador, muito cuidadoso com ela
e com os filhos. Lembrou de sua infância numa casinha de pau à pique, onde só
comia o que era colhido na pequena propriedade. Sabia o que era sentir fome.
Ela e o marido trabalharam honestamente e conquistaram uma boa vida. Puderam
dar aos filhos muito mais do que tiveram. Dona Francisca tinha orgulho de sua
história.
Com os olhinhos lúcidos, viu nuvens cinzas cobrirem o
céu. Gritou para a filha tirar as roupas do varal e adormeceu. A chuva não deu
trégua, caiu por vários dias, incessantemente, até não dar mais para enxugar a
roupa, ou a casa. Viu rachaduras nas paredes e antes que a água entrasse pela
sala, pegou a TV, o rádio e correu para a casa da filha, de dois andares. Foi
para o terraço e observou a água subindo, levando consigo a porta, inundando
sem dó todos os cômodos, roubando sua poltrona e toda sua história. Não
conseguiu chorar, ficou olhando de longe a água invadir cada
quarto, derrubar cada tijolo que levou anos para construir. Dona Francisca
nunca havia passado por algo assim em todos os seus 84 anos. Sem poder acreditar, viu
sua casa cair.
“Um dia me disseram que as nuvens não eram de algodão…
somos quem podemos ser, sonhos que não podemos ter”. Cantou.
*Referência à canção de Engenheiros do Hawaii
Parafraseando Ana Cláudia Arantes, Geriatra, em seu livro “A morte é um dia que vale a pena viver”, digo sobre o envelhecer: Levar a vida de forma a não precisar que ninguém limpe sua bunda, mas caso precise, que haja uma fila de pessoas que queiram e se sintam honradas em fazê-lo.
Ver sua menininha no caixão tirou a esperança e a fé que ele possuía. Que Deus é esse que permite a morte de uma criança?
Saiu de casa após o enterro e foi andando sem rumo, deixando para trás família, trabalho e bens materiais. Tudo virou pó e estrada.
Sua mente divagava entre revolta e saudade. Imagens de sua filha causavam um choro que corroía seu rosto e convulsionava seu corpo. Seus pés descalços sangravam na estrada, o que pouco importava. Continuou andando entre sol e escuridão, fome e sede.
Qualquer canto servia de cama, uma pedra era seu travesseiro e os restos de comida que encontrava pelo caminho nutriam seu corpo.
O tempo foi passando e para ele a estrada infinita aliviava a falta de sentido. Só precisava fugir para longe de si, sem ninguém ao redor, sem Deus, sem paz, sem se sentir gente.
Um dia viu seu reflexo no vidro de um carro parado no caminho. Estava sem os dentes; perdeu pela estrada. Não se reconheceu, viu ali um outro homem: encardido, cabeludo e magro. Para ele não fazia a menor diferença.
Pessoas tentavam se aproximar, ajudar, mas ele expulsava a todos com fúria, aos gritos. Aceitava comida, água e cachaça para aquecer, nada mais. Ninguém entendia o seu desespero. Resolveu que sua vida era um equívoco, melhor se matar e quem sabe, reencontrar sua filhinha.
Procurou um bom lugar para se livrar daquele corpo ferido e supérfluo. Não queria pular na estrada e ser devorado por urubus. Precisava ver o rosto de sua filha no último instante. Portanto, seus dias se resumiriam a encontrar o local perfeito.
Andou pela estrada, decidindo onde se renderia à morte. Nada parecia adequado, até que avistou uma ponte com a vista mais linda que poderia sonhar, com árvores, montanhas e um pôr do sol avermelhado. Não sentiria mais vazio, dor, saudade, revolta ou angústia, aquele lugar seria sua salvação.
Pensou que se Deus existisse, enfim se livraria dele.
Foi de um lado para o outro escolhendo o melhor ângulo da ponte. Havia uma cidadezinha lá embaixo e caso conseguisse voar, pousaria sobre ela. Se pendurou na lateral da ponte. Viu o sol encoberto pelas nuvens, a montanha, as árvores e o rostinho de sua filha. Chorou lembrando do seu toque, seus beijinhos, a doçura de sua voz, o sofrimento de quando a perdeu. Entre lágrimas e soluços, gritou seu nome e pulou.
Sentiu uma mãozinha conduzindo seu corpo que agora parecia leve. Era sua menininha: “Papai, eu te seguro”. Chorando a abraçou. Um calor o consumiu e numa fração de segundos, olhou ao redor e percebeu a vida como um continuum.
Uma paz o tomou, como se flutuasse. Ouviu uma voz murmurar: “Eu te amo, ainda não é tempo”.
As sirenes e o barulho o trouxeram de volta à vida, ficou pendurado entre os galhos de uma árvore.
Todo quebrado, sangrando, se sentiu vivo de novo e acordou.
Seu rosto calvo se fechou
sem sorriso
O peito, esse inquieto desconhecido
do sonho se esquivou
Quem escreve sente no silêncio do papel aquilo que não entende. A si mesmo.
Vou comer o pão
sentada no sofá vendo TV
vou deixar correr o tempo
vou deixar soprar o vento
no castelo que construí
e me consumiu em ilusões
Com a mesa de café posta
vou me sentar ao lado do
assassino
comer com ele a verdade
a saudade de quem levou
e me deixou sem boca para sorrir
Vou dividir o pão
com o ladrão que me roubou
Vou pedir pelo seu bem, sem lhe
querer bem
E na minha mesa abraço amigos e
família
Os mesmos que mantém em mim a
utopia
de ser boa e suficiente
De tanto pão sem sede de amor,
vou comer sozinha
os sonhos que projetei
E ao fim do dia de pão em pão
Talvez
encontre a sabedoria que não busquei
Cozinho em banho-maria decisões
Deixo a raiva molengar
O sonho esmorecer
Não tenho pressa de viver
Quero sentir aos poucos
até que ponto devo mudar
Aceito os ares de época
como se fossem ensinar
a urgência esperar meu tempo certo acontecer
A juventude rouba isto de deixar água amornar
Eu sigo cozinhando
lentamente até ferver
Já no elevador eu sentia o cheiro de alho e óleo e do feijão refogado. Meu peito absorvia o bem querer que entrava pelas narinas. Eu me sentava no canto da cozinha enquanto ela fazia o almoço sem gostar, com todo afeto que a aceitação pode trazer para vida de alguém. Ela me falava sobre a angústia de ser dona de casa, do amor perdido na juventude, do casamento arranjado com meu avô. Aos 70 anos, falava sobre sua disposição em se separar, para no dia seguinte levar o café da manhã na bandeja para ele. Conformada e inconformada.
Era professora e tinha jeito com as palavras. Com família criada e numerosa, filhos que se foram e outros que não se ajustaram, ela aceitou a velhice encolhida na vida de rotina.
Parecia que eu enxergava além do feijão perfeito que ela fazia. Aos poucos fui me enchendo de seu querer, entendendo o peso de suas palavras tristes, delicadamente compartilhadas. Fui aprendendo a ouvir.
O cheirinho de alho, de amor não vivido, de uma vida segura e insuficiente ainda hoje exala ao meu redor. Virei o reflexo do que ela sonhou e não pôde viver, e sou muito menos do que ela foi. Não sei fazer feijão.
Entende aquilo que era descaso, a dor, a decepção, o casamento infeliz.
Passa a refletir sobre a queixa, a fala, e delicadamente vai perdoando cada sentimento, o dia ruim, a tristeza debaixo da cama, a falta de afeto.
A gente passa a entender o querer bem, sem estar bem.
É preciso envelhecer para compreender os pais, e assim, criar filhos equilibrados, sem refletir neles o que foi nosso.
Com o tempo a gente enxerga, e só então troca o rancor pelo amor.
Sou de resumir
Pensamentos, mágoas
frases, palavras
circunstâncias
Resumo tudo e de curto esqueço
Escrevo um conto e filtro à seguir
até virar uma linha do que pensei
Perco a poesia de tanto cortar
Até resumir para decifrar
a vida que há em mim
Boba eu que me vi em luzes
Esperando brilhar
Tolo o querer
O que importa é a amizade
o bem estar
amor aconchegante
saúde, de filha forte
Vida independente
de aplausos que entorpecem o pensar
Boba eu
Ando tricotando palavras
Remendando frases
Costurando decisões
No meu canto de silêncio
Mudanças,
que preciso tecer em mim
(Arte em tricô: Vitória)
Hoje é um dia quente por fora e frio por dentro. Melhor viver em neblina a deixar o sol queimar o lado errado.
Meg chegou no céu dos bichinhos
e olhou para trás, procurando por sua dona. Sem achá-la, se deu conta de que
ela tinha ficado na Terra. Teve receio de que ela não estivesse bem; precisava
reencontrá-la.
Resolveu olhar ao redor, e viu um cãozinho másculo vindo em sua direção.
Putz, era o Max, seu amor da Terra. Max não foi legal com ela. A esnobava,
ignorava, sumia com outras cadelinhas, mas mesmo assim, era dele seu coração. E
agora, se faria de desentendida ou iria até ele?
Meg resolveu explorar aquele lugar incrível sem o Max. Não sentia mais
dores, conseguia correr e pular, como na juventude. Viu à frente uma grama
verdinha e brilhante, com flores rosas, borboletas azuis e canarinhos. A grama
virou nuvem e Meg deslizou até chegar numa colina cheia de coelhos. Não sentia
vontade de morder os coelhos, e sim, pular com eles e brincar. Foram juntos até
um lago. Meg nadou, saltou com os coelhinhos e se esbaldou, até que avistou uma
porta.
Colocou o focinho na greta da porta e viu sua dona chorando, triste. Meg se sentou ao lado dela, tentou latir, mas não saiu nada. Queria contar para a dona como era incrível o lugar que estava, que não era para ela chorar. Queria muito falar que Max também estava lá, mas seu latido ficou mudo. Dormiu ao lado da dona, até que na manhã seguinte a achou melhor. Aliviada, voltou para o céu dos bichinhos, e lá avistou alguém conhecido. Era a tia, irmã da dona. Ela chegou e fez um afago em Meg, como quando moravam na Terra. Não é que ela também passeava por ali?!
Meg já era popular no céu. Max às vezes se aproximava, mas Meg continuou deixando o tempo – que mais parecia atemporal, passar. Várias vezes visitou a dona, que agora estava melhor.
Certo dia, Max, cheio de coragem e sem orgulho – algo que para Meg era
encantador, foi até ela e pediu perdão. Meg então perguntou:
– Max, porque fica assim
atrás de mim, me cercando, se não me amou quando podia?
Com os olhos abaixados, úmidos e sinceros, Max respondeu:
– Porque tive medo de
tentar. Deixei o destino nos juntar, mas esqueci de dizer que queria você.
– Mas Max, você é mesmo
besta! Poderíamos ter curtido a vida por lá.
– Meg, toda hora que
a gente se aproximava, algo nos separava. E você sabe que as outras cadelinhas
se atiravam em mim. Mas você também não disse, com todas os latidos, que queria
ficar comigo.
– Poxa, Max, se não
me sinto segura numa situação, fujo. Ver você com outras, principalmente aquela
poodle pela qual se apaixonou, me fez desistir. Você dizia que ela era seu
amor. Não entendo, o que faz aqui, perto de mim?
– Meg, meus sentidos
me enganaram. Me apaixonei e esqueci de enxergar o principal, a essência. Ela
me largou e hoje também está aqui, com um pastor alemão. Sei que ela não era
meu amor. Você é.
– Quer saber, deixa pra lá.
Vamos fazer aqui o que não fizemos lá... nos divertir.
Saíram meio sem jeito, até que perderam o medo de tentar. Quem olhasse
de longe veria dois cachorrinhos correndo por entre as nuvens, felizes.
De soslaio, Meg olhou para a porta que a ligava à dona. Entrou. Ela
estava plantando umas flores coloridas. Foi quando a dona olhou para baixo,
onde havia guardado Meg, no jardim de sua casa e disse:
– Meg, quando eu chegar aí você
vem correndo até mim? Vai me esperar?
Meg viu que a tia se aproximou e juntas responderam à
dona:
– Olha, nós só viemos antes. O
amor não se perde, se transforma. Estaremos aqui quando você chegar.
A dona plantou os beijinhos e sorriu. Parecia ter ouvido.

