Para o Natal João nem sabia o que pedir, tamanha era a oferta de brinquedos. 

Seus pais tinham uma regra: não dar celular aos filhos pequenos. Comum ao ser humano, lá foi o garoto querer o impossível. João pediu de Natal um celular de verdade.

Como era de se esperar, no dia de Natal o Papai Noel não compareceu. Eram tantos presentes que João nem olhava mais o que ganhava. Um presente após o outro e nada de celular. Quando os embrulhos acabaram, João estava decepcionado. Saiu e foi para o quarto chorar. Passou o dia de Natal emburrado.

À noite ocorreu algo inesperado: no sonho Papai Noel apareceu e convidou João para um passeio. Ele topou. Saíram voando pela janela até chegarem numa casa grande, com cheiro de remédio. Desceram e caminharam pelos corredores, foi quando avistaram um quarto. A porta estava aberta, entraram. O Papai Noel saiu de fininho, João não entendeu o porquê. Havia uma garotinha sem cabelos lá, chorando. João se sentou ao lado e perguntou seu nome: era Vitória. Queria saber o motivo dela estar chorando. “Pedi de presente ao Papai Noel meu cabelo de volta e quando acordei não tinha nascido nada. Ele me deu uma boneca, essa aqui”. Mostrou para João a boneca de longos cachos castanhos. O garoto disse que também não ganhou o que pediu: um celular. Os dois se olharam como se entendessem que nem sempre os sonhos e desejos se tornem realidade.

João passou a mão na cabeça dela e disse que era gostoso tocar a cabeça lisa, que achava ela bonita sem cabelos. Vitória se lembrou de ter ouvido a mãe dizer que criança com menos de 10 anos ficava bobinha com celular. Contou para João. Soltaram um ahhhh e se deitaram um ao lado do outro, em silêncio.

João abriu os olhos e não estava mais ao lado de Vitória, voltou para sua casa sem nem se despedir do Papai Noel. Foi correndo até o quarto dos pais falar que não queria mais celular.

Deitado entre eles, pediu para raspar o cabelo.