Tatuagens

By Marlise Vidon - 6/07/2023 07:57:00 AM

Nunca gostei de tatuagens. Tudo para mim que é definitivo é demorado demais. E quantas vezes julgamos algo ou alguém como definitivo, para nos despedirmos a seguir.

Já discuti o tema exaustivamente com minhas sobrinhas. Hoje todas estão tatuadas. 

Uma delas terminou um relacionamento e foi tampar a tatuagem feita na ocasião. Saiu com uma nuvem negra imensa nas costas. Dessas que aparecem no céu antes de uma tempestade. Odiou. Fiquei com pena e não disse: “eu falei”. Mas pensei.

Outra tatuou uma caveira na cintura para tampar a anterior, feita durante uma paixão. Pois bem, o namoro voltou, hoje está casada com a tal paixão e com a tatuagem em homenagem a ela que a caveira tampou.

A sobrinha mais “Patricinha” fez um anjinho perto do umbigo. Com a gravidez e o aumento da barriga, o anjinho ficou torto, passei a chamá-lo de cabeçudo. Ela teve que tampar o cabeçudo com uma flor esquisita. Veio outra gravidez, aí não sei onde a flor foi parar, pois o biquíni aumentou e ela ficou com vergonha de me mostrar.

Outra sobrinha mais aventureira e moderna, fez várias tatuagens espalhadas pelo corpo. Tem uma imensa na coxa. Não perdi a chance de dizer que com o envelhecimento, vai sobrar pelanca de tatuagem. Ela riu de mim. Típico de jovem que não sabe o que é lidar com a perda de colágeno. Mas admito, fui má.

Enfim, travei uma batalha contra tatuagens, por julgá-las modismo. Mas a cada dia vejo mais e mais pessoas tatuadas, inclusive idosos. Como não se cansam de ver aquela imagem? E à noite ao acordar, não há um estranhamento ao ver sua pele colorida? Resolvi me calar e deixar o tempo mostrar que estou certa.

Fim de semana cheguei em casa e encontrei com minha filha na escada. Meus olhos foram direto para seu punho. Mal fez 18 anos e tatuou o punho. Sabe aquela dor no peito, tipo de uma facada? Como ela pode me trair assim, justo eu, uma militante contra as tatuagens? E a dita cuja foi em homenagem à avó, que amo. Porém, e eu...

Tirei tudo que pude dela. Mesada, academia, psicólogo. Nem conseguia olhar para minha menina. Fiquei alguns dias assim, de mal humor, sem falar com ela. Até que num belo dia amanheci me sentindo ridícula.

Sinceramente, minha filha e sobrinhas sabem fazer suas escolhas, diferentes das minhas. Gostaria de ter discutido a situação com minha filha. Claro, teria proibido a tatuagem. E ela teria desobedecido, natural quando se é jovem. Posso não ter gostado, mas a pele desenhada é a dela. Tudo que posso fazer é esperar que não se arrependa e entender que o mundo e as pessoas mudam.

Por fim, penso em não me tatuar na vida. Não preciso desse recurso para homenagear alguém ou algo que levo na memória e no coração. Mas não posso impedir quem amo de fazê-lo. Cada um é cada um, com suas verdades, vaidades e gostos.

Me resta aceitar que possa estar errada e inclusive mudar um dia, quem sabe.




PS.: Tatuagem gentilmente cedida por uma das sobrinhas

 



  

 

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