Tatuagens
Nunca gostei de tatuagens. Tudo para mim que é definitivo é demorado demais. E quantas vezes julgamos algo ou alguém como definitivo, para nos despedirmos a seguir.
Já discuti o tema exaustivamente com minhas
sobrinhas. Hoje todas estão tatuadas.
Uma delas terminou um relacionamento e foi
tampar a tatuagem feita na ocasião. Saiu com uma nuvem negra imensa nas costas.
Dessas que aparecem no céu antes de uma tempestade. Odiou. Fiquei com pena e
não disse: “eu falei”. Mas pensei.
Outra tatuou uma caveira na cintura para
tampar a anterior, feita durante uma paixão. Pois bem, o namoro voltou, hoje
está casada com a tal paixão e com a tatuagem em homenagem a ela que a caveira
tampou.
A sobrinha mais “Patricinha” fez um anjinho
perto do umbigo. Com a gravidez e o aumento da barriga, o anjinho ficou torto,
passei a chamá-lo de cabeçudo. Ela teve que tampar o cabeçudo com uma flor
esquisita. Veio outra gravidez, aí não sei onde a
flor foi parar, pois o biquíni aumentou e ela ficou com vergonha de me mostrar.
Outra sobrinha mais aventureira e moderna,
fez várias tatuagens espalhadas pelo corpo. Tem uma imensa na coxa. Não perdi a
chance de dizer que com o envelhecimento, vai sobrar pelanca de tatuagem. Ela
riu de mim. Típico de jovem que não sabe o que é lidar com a perda de colágeno.
Mas admito, fui má.
Enfim, travei uma batalha contra tatuagens,
por julgá-las modismo. Mas a cada dia vejo mais e mais pessoas tatuadas,
inclusive idosos. Como não se cansam de ver aquela imagem? E à noite ao
acordar, não há um estranhamento ao ver sua pele colorida? Resolvi me calar e
deixar o tempo mostrar que estou certa.
Fim de semana cheguei em casa e encontrei
com minha filha na escada. Meus olhos foram direto para seu punho. Mal fez 18
anos e tatuou o punho. Sabe aquela dor no peito, tipo de uma facada? Como ela
pode me trair assim, justo eu, uma militante contra as tatuagens? E a dita cuja
foi em homenagem à avó, que amo. Porém, e eu...
Tirei tudo que pude dela. Mesada, academia,
psicólogo. Nem conseguia olhar para minha menina. Fiquei alguns dias assim, de
mal humor, sem falar com ela. Até que num belo dia amanheci me sentindo
ridícula.
Sinceramente, minha filha e sobrinhas sabem fazer suas escolhas, diferentes das minhas. Gostaria de ter discutido a situação com minha filha. Claro, teria proibido a tatuagem. E ela teria desobedecido, natural quando se é jovem. Posso não ter gostado, mas a pele desenhada é a dela. Tudo que posso fazer é esperar que não se arrependa e entender que o mundo e as pessoas mudam.
Por fim, penso em não me tatuar na vida. Não preciso desse recurso para homenagear alguém ou algo que levo na memória e no coração. Mas não posso impedir quem amo de fazê-lo. Cada um é cada um, com suas verdades, vaidades e gostos.
Me resta aceitar que possa estar errada e inclusive mudar um dia, quem
sabe.
PS.: Tatuagem gentilmente cedida por uma das sobrinhas
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