Sempre que digo que não gosto de viajar, vejo as pessoas ao redor se surpreenderem. Pois bem, tentarei explicar.
Primeiro são as
bolsas, a gente nunca sabe o que levar. Então levo um pouco de tudo. Imagina se
aparecer um enterro para ir? Ou se por acaso esfriar em Salvador? Tudo isto
tem que ser pensado ao se arrumar uma mala. E que mala, de mão ou grande para
despachar, com o risco de extraviar? Depois de vencida esta etapa, é decidir
sobre o transporte até o aeroporto.
Lá vou eu com mala
de mão, mala despachada, bolsa e celular, tudo devidamente equilibrado no
corredor do avião apertado com gente atrás, querendo passar.
Após a decolagem,
vem aquela pergunta básica: “E aí, o avião vai cair? E se um passarinho
desavisado se enroscar onde não deve?” No carro pelo menos a gente tem a
sensação de controle. Mesmo que as estatísticas comprovem que voar é
infinitamente mais seguro, é também infinitamente mais letal.
Vencida a viagem e
o transporte para o hotel, hora de relaxar e aproveitar. Mas não dá para perder
tempo. Tem que “turistar” assim que chegar.
E lá vou eu em passeios cansativos, fuso horário bagunçado, vendedores cobrando um preço exorbitante dos turistas, intestino sem funcionar, lençóis e travesseiros que não são minhas muxibinhas habituais.
Penso que lá fora há um mundo para desbravar e novas pessoas para conhecer. Mas o ser humano não é o mesmo aqui e acolá? E para que servem os livros, senão para me transportarem para outro lugar e cultura, confortavelmente deitada na minha cama?
Ah, mas ao vivo é
diferente. Sim, assim como o cansaço de visitar pontos turísticos e tirar 1000
fotos do momento que não vivi, só fotografei, para nem mesmo eu olhar depois.
Mas vá lá, Minas
Gerais não tem mar. Precisa viajar para ver e curtir. Sento-me na areia e
observo o mar por uma, duas horas, tempo suficiente para pensar, filosofar,
sofrer. E as ondas estão lá, do mesmíssimo jeito. Sou muito mais meu mar de
montanhas e sua neblina. Sem falar da areia na calcinha. Sinceramente, não sei
como resolver isto sem voltar para o hotel e tomar um banho.
E os museus, com
seu banho de cultura? Para quem gosta deve ser fenomenal.
Enfim, descubro
aquele boteco simpático com o músico cantando Vander Lee, cerveja gelada e
pessoas bacanas. Aleluia! Depois de bater perna por mais de 13 dias e visitar
tudo que não me interessa, descubro na rua que fica atrás do hotel algo que
gosto, no dia anterior ao de ir embora.
Duas semanas se
passaram e no mínimo tenho que ter absorvido toda cultura local, visitado os
principais pontos turísticos e crescido internamente, depois de observar o mar
por horas. Ai que saudade da minha casa.
Então é programar a
volta, enfiar tudo nas malas, agora há também presentinhos. Cansaço, uber,
avião, taxi, malas, mas enfim em casa, com roupas para lavar e compras a fazer.
Mas há o argumento
de que se “descansa a cabeça” viajando. Até acho que sim, para cansá-la a
seguir com as contas do cartão de crédito feitas na viagem.
Sinceramente,
viajar me cansa tanto que tenho que tirar férias depois para descansar.
Posso ser
diferente, mas já encontrei alguns doidos parecidos comigo.
Digo sempre que o
melhor da viagem é voltar para casa.